Nas últimas décadas, a China emergiu como um ator central nas discussões sobre mudanças climáticas, não apenas por ser o maior emissor anual de gases de efeito estufa, mas também pela complexidade de sua posição no cenário internacional.
Este artigo explora como o aumento das emissões chinesas, sua liderança em tecnologias verdes e os desafios de financiamento climático estão moldando a política climática global.
Cenário Climático
Desde os anos 1990, a China embarcou em uma jornada de crescimento econômico meteórico, tornando-se a segunda maior economia do mundo. No entanto, este crescimento veio com um custo ambiental. O país construiu, nas ultimas três décadas, mais de 1.000 usinas de energia a carvão, tornando-o o maior emissor anual de gases de efeito estufa.
Em termos históricos, os Estados Unidos ainda detêm o título de maior emissor cumulativo, com suas emissões datando do século XIX. No entanto, em 2023, a China ultrapassou a Europa como o segundo maior emissor cumulativo, segundo dados do Carbon Brief.
Isso gera um dilema: como equilibrar o papel da China como motor de crescimento econômico e maior emissor com sua crescente responsabilidade climática?
A Liderança em Energias Renováveis: Uma Contradição Chinesa?
Embora a China seja frequentemente criticada por seu uso de carvão, ela também lidera a transição global para energia limpa. O país está instalando mais turbinas eólicas e painéis solares do que todas as outras nações combinadas. Além disso, a China lidera as vendas de veículos elétricos e investe em pesquisas para baterias e armazenamento de energia.
Essas iniciativas visam atingir a meta de pico de emissões até 2030, seguida de uma redução contínua. No entanto, especialistas alertam que o progresso nas energias renováveis precisa acelerar para compensar os impactos das emissões históricas.
A Questão da Responsabilidade Financeira
No cenário internacional, as responsabilidades financeiras são um ponto de discórdia. Historicamente, países industrializados, como os Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, assumiram o compromisso de financiar ações climáticas para países em desenvolvimento, conforme acordado na estrutura climática da ONU de 1992.
Contudo, países desenvolvidos pressionam para que economias emergentes como China, Índia e Arábia Saudita também contribuam mais. Nos últimos anos, a China forneceu cerca de US$ 24,5 bilhões em financiamento climático, mas enfrenta críticas pela falta de transparência nos relatórios dessas doações.
Líderes chineses argumentam que os países ricos ainda devem assumir a maior responsabilidade, dado o papel histórico deles nas emissões. Esse debate foi central na COP29 em Baku, onde diplomatas discutiram como levantar trilhões de dólares para financiar a transição global para energia limpa e apoiar países vulneráveis.
Desigualdade nas Emissões Per Capita
Outro fator que complica o debate é a desigualdade das emissões per capita. Enquanto a China lidera em emissões totais, suas emissões per capita são significativamente menores do que as dos Estados Unidos, Canadá e Arábia Saudita.
A Índia, apesar de ser um grande consumidor de combustíveis fósseis, apresenta emissões per capita ainda mais baixas, refletindo sua luta por crescimento econômico enquanto lida com desafios como pobreza e acesso limitado à eletricidade.
Por outro lado, países ricos produtores de petróleo, como Catar e Arábia Saudita, enfrentam pressão para contribuir mais, dada sua alta emissão per capita.
O Papel da China nas Negociações Globais
Com as emissões históricas da China se aproximando das dos Estados Unidos, o país está em uma posição única para influenciar a política climática global. A questão permanece: como a China pode alinhar seu papel como líder de renováveis com suas responsabilidades históricas?
Diplomatas globais esperam que a China assuma um papel mais formal e transparente no financiamento climático. Especialistas acreditam que o sucesso da transição energética global dependerá de como essas questões serão resolvidas nos próximos anos.
Um Futuro Incerto, Mas Promissor
A ascensão da China como líder em emissões e energia limpa apresenta um desafio singular para a política climática global. Enquanto seu crescimento econômico a posiciona como uma potência mundial, o país precisa equilibrar seu papel de emissor histórico e líder em energias renováveis.
Ao navegar pelas complexidades de financiamento climático e responsabilidade histórica, a China tem o potencial de liderar uma transformação significativa. O futuro das negociações climáticas dependerá de uma colaboração global que inclua todos os grandes emissores, sem exceções.