O debate sobre a possível volta do horário de verão no Brasil em 2024 está em pauta. Desde que foi extinto em 2019, por determinação do governo de Jair Bolsonaro, argumentando que a medida não trazia mais benefícios energéticos significativos, a discussão volta à tona diante de uma nova crise hídrica e energética.
Para muitos, o horário de verão é uma solução viável para otimizar o uso de energia em um país que tem enfrentado dificuldades em gerenciar seus recursos hídricos, os quais são a principal fonte de eletricidade.
O principal objetivo do horário de verão é adiantar os relógios em uma hora durante o verão, aproveitando ao máximo a luz natural e, consequentemente, reduzindo a demanda por eletricidade no início da noite, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, onde o impacto dessa alteração é mais notável.
Com verões cada vez mais longos e quentes, a adoção da medida pode ser uma maneira eficaz de mitigar o aumento no consumo de eletricidade, particularmente em tempos de maior uso de ar-condicionado e ventiladores.
A Crise Energética e as Mudanças no Consumo
O Brasil enfrenta desafios significativos no setor energético, com reservatórios de hidrelétricas em níveis críticos e a necessidade de acionar usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes. O horário de verão, em contextos passados, contribuiu para a redução do consumo de energia entre 0,5% e 1% durante os meses em que estava em vigor, o que pode parecer pouco, mas representava uma economia significativa quando considerada em termos de megawatts.
No entanto, especialistas do setor energético têm apontado que o perfil de consumo mudou drasticamente nos últimos anos. Com o avanço de novas tecnologias e mudanças no comportamento da população — como o aumento do trabalho remoto e o uso de eletrônicos ao longo do dia —, a economia gerada pelo horário de verão não teria o mesmo impacto.
Hoje, grande parte do consumo ocorre durante o dia, e não mais apenas no pico da noite. Isso levanta a questão de até que ponto a medida ainda seria efetiva para a economia de energia no cenário atual.
Impactos Econômicos e Sociais
Além das questões energéticas, o horário de verão tem impactos significativos em outros setores da economia. Para o comércio e o turismo, a medida sempre foi vista de forma positiva, uma vez que os dias mais longos incentivam as pessoas a saírem de casa, gastarem mais e aproveitarem atividades de lazer. Cidades turísticas, em especial, notam uma movimentação maior e um aumento no consumo.
Por outro lado, há também os impactos sociais e na saúde. A alteração no horário afeta o relógio biológico de muitas pessoas, causando distúrbios no sono, estresse e, em alguns casos, queda na produtividade, principalmente nos primeiros dias após a mudança. Trabalhadores que começam suas atividades muito cedo, como agricultores e operários da construção civil, costumam ser os mais afetados.
Pesquisas recentes mostram que a população está dividida em relação ao tema. Um estudo de 2024 apontou que enquanto muitos brasileiros apoiam a volta do horário de verão, principalmente pelas questões energéticas e pelo maior tempo de lazer, uma parcela considerável se opõe à medida, argumentando os impactos negativos na rotina diária e na saúde.
A Perspectiva Governamental
O governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, tem analisado com cautela a possibilidade de reintroduzir o horário de verão. Embora o cenário de crise energética exija medidas urgentes, o retorno do horário de verão não é visto como uma solução definitiva, mas sim como uma medida paliativa para aliviar a pressão no sistema elétrico em períodos críticos. Atualmente, o governo consulta especialistas do setor e avalia dados de consumo para tomar uma decisão final.
Além disso, a mudança pode ser vista como parte de uma estratégia mais ampla para garantir a segurança energética do país, que envolve também a diversificação das fontes de energia, como a expansão da energia solar e eólica, que têm ganhado força no Brasil nos últimos anos. Essas fontes renováveis, no entanto, ainda não conseguem suprir completamente a demanda crescente por energia, especialmente em períodos de calor intenso.
Sustentabilidade e Consumo Consciente
O possível retorno do horário de verão está não se limita apenas à questão da economia de energia. Ele também reflete uma preocupação crescente com a sustentabilidade e o uso consciente dos recursos naturais. A medida pode servir como um lembrete da importância de mudanças estruturais mais amplas, que vão além de soluções temporárias.
Assim como em outras políticas ambientais, o retorno do horário de verão levanta questões sobre o equilíbrio entre as necessidades econômicas, o Bem Viver e a preservação ambiental.
Discutir essa medida no contexto da sustentabilidade envolve também refletir sobre a transição para um sistema energético mais verde e eficiente, reduzindo a dependência de fontes poluentes e otimizando o uso de energia.
Considerações Finais
O retorno do horário de verão no Brasil em 2024 ainda não foi oficialmente confirmado, mas o debate já evidencia o quanto essa medida polariza a sociedade. De um lado, temos a necessidade urgente de economizar energia em tempos de crise, enquanto do outro, a população questiona os impactos na saúde e no cotidiano.
Em um cenário de aquecimento global e mudanças climáticas, políticas públicas que incentivem o uso consciente de recursos naturais são fundamentais. No entanto, medidas como o horário de verão devem ser avaliadas não apenas pela economia de energia, mas pelo seu impacto total na sociedade e pelo papel que podem desempenhar em uma transição para um futuro mais sustentável.
A discussão está em andamento, e seja qual for a decisão final do governo, o tema abre espaço para debates mais amplos sobre o futuro da energia no Brasil e como podemos adaptar nosso consumo de forma sustentável e consciente.
Referências:
- “A volta do Horário de Verão: Uma medida necessária ou apenas uma ilusão?” – Istoé (ISTOÉ Independente)
- Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre a economia de energia