Agronegócio no Brasil: Impacto destrutivo

O Brasil, reconhecido como uma potência agrícola, é um dos maiores exportadores globais de commodities como soja, carne bovina e milho. Contudo, o custo ambiental e social desse sucesso é devastador. O agronegócio brasileiro, impulsionado por interesses corporativos e investimentos internacionais, é o principal responsável pelo desmatamento de biomas críticos como a Amazônia e o Cerrado. As práticas destrutivas e o modelo intensivo de produção agrícola representam uma ameaça não só ao meio ambiente, mas também à sobrevivência de comunidades locais.

O Agronegócio e Seus Impactos Destrutivos

Apesar de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelar uma queda de 10,6% em agosto deste ano de 2024 nos alertas de desmatamento na Amazônia, resultado de iniciativas como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCDAm), reativado em 2023, o Cerrado permanece sob intensa pressão.

Segundo dados do Observatório do Clima, o desmatamento no Cerrado, está diretamente ligado à expansão das pastagens para a produção de carne e soja. Em áreas de terras privadas, há um controle governamental menos rigoroso, o que facilita a emissão de licenças para desmatamento. Isso evidencia que a destruição ambiental está se deslocando das florestas para as savanas, onde há menor controle governamental e mais concessões de licenças para desmate.

Além do desmatamento, o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos também coloca em risco a saúde do solo e a qualidade da água. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo , o que resulta em contaminação de rios e aquíferos, com impactos negativos tanto para a biodiversidade quanto para a saúde pública. Estudos apontam que a presença de resíduos de pesticidas em alimentos no país atinge níveis preocupantes, afetando especialmente comunidades rurais e populações indígenas.

No campo social, o agronegócio contribui para a concentração de terras nas mãos de grandes corporações, o que agrava os conflitos agrários. Pequenos agricultores, quilombolas e indígenas são frequentemente expulsos de suas terras para dar lugar à expansão das monoculturas. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os conflitos por terra no Brasil aumentaram 7,46% em 2023, e grande parte está relacionada à pressão do agronegócio.

O Pequeno Produtor e Economias de Subsistência

Em oposição ao agronegócio, o pequeno produtor rural e as economias de subsistência representam uma forma mais equilibrada de interação com o meio ambiente. Pequenos agricultores utilizam práticas agroecológicas e sistemas de manejo sustentável, como a rotação de culturas e o uso de adubos orgânicos, que preservam a biodiversidade local e mantêm o solo produtivo ao longo do tempo.

Esses produtores desempenham um papel crucial na segurança alimentar do Brasil, fornecendo alimentos frescos e diversificados para o consumo interno, especialmente nas feiras locais. Ao contrário do agronegócio, que prioriza a exportação, o pequeno agricultor atende às necessidades das comunidades locais, mantendo uma conexão direta com a terra e respeitando os ciclos naturais.

Pautas Governamentais e Políticas Públicas

O governo brasileiro enfrenta o desafio de conciliar o crescimento econômico impulsionado pelo agronegócio com a necessidade de proteger o meio ambiente e apoiar os pequenos produtores. Nos últimos anos, programas como o Plano Safra e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) foram lançados para incentivar práticas agrícolas mais sustentáveis e dar suporte ao pequeno agricultor.

No entanto, as políticas ambientais têm sido inconsistentes, especialmente no que diz respeito à fiscalização. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), responsável por monitorar o desmatamento, sofreu cortes orçamentários e redução em suas operações nos últimos anos. Dados levantados pela Agência Pública apontam que os recursos do Ibama previstos para serem usados especificamente na prevenção e controle do desmatamento e de incêndios florestais sofreram uma redução de 19,6% em março deste ano de 2024. Isso enfraqueceu a capacidade do governo de conter práticas ilegais de desmatamento e de incêndios florestais associadas ao agronegócio.

Por outro lado, há avanços nas pautas de preservação ambiental e apoio ao pequeno agricultor. Iniciativas como o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) buscam incentivar práticas agrícolas mais limpas, como a integração lavoura-pecuária-floresta e o uso de tecnologias de baixa emissão de carbono.

O grande desafio para o Brasil é encontrar um equilíbrio entre a necessidade de produção agrícola e a preservação ambiental. Incentivar práticas agroecológicas e fornecer apoio técnico e financeiro aos pequenos agricultores são passos essenciais para um futuro mais sustentável.

O futuro da agricultura no Brasil depende da capacidade do governo e da sociedade civil de priorizar modelos de produção que sejam socialmente justos e ambientalmente responsáveis. Com a Amazônia e outros biomas em risco, as escolhas feitas hoje impactarão as próximas gerações.

Apoiar o pequeno agricultor e regular mais rigidamente o agronegócio é um caminho possível para garantir um Brasil mais sustentável. Além disso, é preciso olhar para os desafios mais amplos que o Brasil enfrenta para equilibrar desenvolvimento econômico e sustentabilidade, conforme mencionamos neste artigo do EcoSociedade: Política Ambiental no Brasil: Desafios e Oportunidades.

 


Referências

Agência Brasil, “Alertas de desmatamento na Amazônia caem 46% em um ano”, publicado em 07/08/2024. Disponível em: (Agência Brasil).

Agência Brasil, “Alertas de desmatamento na Amazônia caem 10,6% em agosto”, publicado em 14/09/2024​. Disponível em: (Agência Brasil)

Agência Pública, “Ibama sofre corte de 19% em recurso para combate ao fogo às vésperas do período seco”, publicado em 28/03/2024. Disponível em: (Agência Pública)

Comissão Pastoral da Terra (CPT). “Conflitos no Campo Brasil 2023.” Disponível em: (CPT)

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), “Desmatamento na Amazônia atinge menor nível em 6 anos”, publicado em 13/09/2024. Disponível em: ​(Serviços e Informações do Brasil)

Observatório do Clima, “Mudanças climáticas pioraram incêndios no Pantanal em junho, diz estudo”, 2024​. Disponível em: (Observatório do Clima)

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